quinta-feira, 2 de setembro de 2010

contos trançados


Adormecia a neta enquanto acariciava sua cabecinha. Para cada fio de cabelo contava histórias pequenas, pois o bebe pegava no sono e os fios, curtinhos, não permitiam contos longos. Com o passar dos anos, o cabelo crescia e as histórias tomavam formas novas e mirabolantes.

Quando a menina trançou as longas madeixas, logo as histórias da princesa, do jovem e da fada se mesclaram formando um belo conto. À noite ela dormiu e sonhou como jamais. Quando vieram novas tranças, ao romance da princesa misturaram-se as intrigas de uma bruxa, mas fios próximos, com história de pássaros, permitiram que a princesa fosse informada a tempo e o final foi feliz.

Algumas vezes os cabelos eram aparados nas pontas. Nestas ocasiões, os finais das histórias se perdiam e a avó aproveitava para criar novas soluções para os personagens, alegrando e enriquecendo os sonhos da menina.

Na medida em que se tornava mulher, as histórias rareavam e, muitas vezes o adormecer era o momento de conversar com a avó sobre fatos da vida. Então aconteciam histórias plenas de conselhos, permeados pela sabedoria da idosa senhora.

No dia em que a moça, de surpresa, resolveu cortar os belos cabelos, foi o tempo de se despedir de sua avozinha. Então uniu as mechas cortadas em larga trança e, como um livro, depositou-a em uma caixa junto com os textos de todas as histórias que lembrava.

Um dia, teria uma filha e uma neta e assim, os contos trançados continuariam.


Para Sofia, dos belos cabelos de ouro, uma história inventada na hora de dormir.

em 29-08-2010

4 comentários:

EDUARDO OLIVEIRA FREIRE disse...

Vi um belo filme. Este foi o mais especial de todos os tempos.

Angela disse...

Obrigada Dudu!
Neste dia eu adormeci minha netinha de três anos contando histórias com as mechas de seus lindos cabelos louros. Ainda houve a parte dos piolhos no forró, o que a fez rir muito, mas esta parte não contei pois tiraria o "clima"!

Da Noya disse...

Lindo demais. Tem que se pensar em uma forma de transformar esse texto em algo concreto (não sei, em um quadro...) para que ela possa ter de lembrança.
E eu quero saber desses piolhos forrozeiros!
Bjks.

Angela disse...

Lu, eu guardei este posto e mandei para a Fabia guardar também. Ela deve lembrar da noite em que dormimos juntas, sem "meninos" e quando contei a história.
Eu tive que cortar e cena dos piolhos porque não haveria sono possível. Os piolhos saiam pra as boates tanto na cabeça dela quanto na minha e pulavam fazendo cosquinhas e cafunés agitados, Então saltavam de um lado para outro, até que,encharcados de cerveja e pinga caíram duros e a história calma pode prosseguir.