Banksy - balloongirl_alwayshope.
Museu dos afetos perdidos
Não sei como
cheguei àquela porta,
mas o nome do
lugar era
curioso e atrativo e
não resisti.
Sensação
estranha, familiar, ao
adentrar aquele
espaço. Até
odores pareciam remeter-me a
outros tempos,
mas o que sentia
mais forte
era perda,
uma funda sensação de
algo que faltava.
O que vi primeiro foram
abraços nunca
recebidos de mãe e pai
e um vazio
muito grande ocupou
meu peito
triste.
Num canto mal
iluminado, fraca luz
vermelha clareava algo
confuso e barulhento,
soturno e
ameaçador: identifiquei
raivas diversas.
Estranho elas
se unirem mas, afinal,
tinham o mesmo propósito e
não conseguiam se livrar de
si mesmas. Anotei que
precisaria conseguir, fosse aberta
naquele canto, uma
janela a trazer
claridade, para
que pudessem se libertar.
Alguns nichos
pouco nítidos
me deixavam entrever
pessoas amorosas a
quem neguei afeto
ou nem percebi.
Assim, permaneceram
mal paradas,
inseguras, mãos tímidas no
ar emitindo palavras
pouco audíveis,
murmuradas com medo e
timidez.
Em outros, ao
contrário, havia impulso
meu para entrar e
este era barrado de
modo ora
agressivo, ora
indiferente e mesmo
zombeteiro.
Mas, talvez o
pior tenham sido as
dores. Pareciam sangrar-me
em seu
tempo perdido. Afetos
mal aproveitados, mal
vestidos, poluídos e
desfeitos em
trapos. Carinhos
mal feitos,
pouco experimentados e escapados no
tempo, abortados pela
morte ou
pela indiferença.
Quanta coisa
mal vivida,
mal percebida, pouco
valorizada. Relações longas
mas, pouco
conscientes de sua
importância, tornaram-se pálidas e
sem
viço.
Mas nem
tudo era
assim. Algumas
peças risonhas e
coloridas me trouxeram
alegria e prazer
embora gastas, conjugadas
no passado e assim
catalogadas.
O museu me
fazia consciente de
mim e de tanta
vida partilhada.
Tanto foi que
me vi surpreendido ao procurar
pela grande
paixão vivida um
dia. Uma das perdas
mais importantes e
sofridas, onde e como
estaria representada?
Ao descobrir que
ali não estava, deixei
o museu quase
correndo, certo de que
talvez fosse a chance de encontrá-la
ainda viva, à
espera!
Angela - em 25-05-2017
Inspirada
por meu
neto Luca, contando
sua visita ao
Museu Nacional.