
Ela foi até ali e voltou rapidamente. Na esquina, seu reflexo a esperava na vidraça da sorveteria. Olhou, gostou, percebeu que a alma pedia carona naquela imagem leve e gentil, mas um pequeno traço no canto do olho esquerdo deu-lhe o sinal da precariedade de sua harmonia. Ouviu uma gargalhada sonora, a buzina forte e o som estridente da freada e do baque surdo. Voltou correndo. Precisava entrar em casa e, em seu espelho, retocar o canto do olho esquerdo para que a alma estivesse de acordo com seu resto. Pois tudo era resto. E seria ainda mais, quando o baque fosse o som de seu corpo desistindo de vez.
Escrito em 19-04-2008
5 comentários:
Eu adorei! Fiquei sem nem saber o que dizer...
Amiga tão querida!
Sabe, eu também não soube... estas coisas saem de dentro de mim com vida própria, parecem psicografias... nem sei e nem penso no que vou escrever! E acho sempre incríveis as "leituras" diversas que suscita!O Alberto, por ex., 'leu' opções que nem sei como!
Dudv
Obrigada!
Pela 1ª vez fiquei confusa com a leitura de um conto seu.
Divida entre a imagem gentil que a alma pedia e o resto......porque tudo era resto.
Este miniconto merece uma nova leitura, daqui a algum tempo.
Beijos, MA
Querida MA
talvez você encontre uma leitura sua, muito sua.
Eu só falei de uma pessoa que pratica a aparência. O detalhe do canto do olho é uma pequena percepção da desarmonia que passa pela "janela da alma". Ela cai em sí com o baque de alguém mas não consegue sair da máscara e continua a retocar o externo pois percebeu que pode virar "resto", ou melhor, já é um resto!
será que ficou claro?
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