quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Motivos

Kitsch - foto de Kamepyh


Sentia um frio intenso naquele final de outono com a pouca roupa que improvisara para chamar atenção. Bebeu um pouco para não enregelar enquanto desfilava sob olhares intrigados, encantados, críticos e injuriados. Na exposição onde circulavam nomes importantes do showbizz precisava ser vista e descolar algum trabalho honesto que lhe permitisse viver e curar-se com dignidade. Rezava para que não percebessem que tinha medo, que era tímida e implorava que aquela peruca continuasse firme sem denunciar os estragos da quimioterapia.

escrito em 21-10-2009

17 comentários:

Anônimo disse...

Profundo... muito bom!

Anônimo disse...

Daria um belo roteiro de filme.

oi disse...

É... Tem hora que a gente tem que fingir que não dói e rezar pra que ninguem perceba que tá doendo. No final das contas todos somos fingidores.

Angela disse...

Anônimo
Anonimato é coisa complicada e difícil... sabe? a gente deixa rastros...
As palavras, a mesma forma de comentar, a não ser que não se tenha estilo! E não é seu caso, meu amigo, antônimo!

Angela disse...

:: Giselly ::
É verdade, mas como já disse o Fernandito... a dor que deveras sentimos.
Este aí foi escrito, não para os fingidores ou os que se protegem, mas para os que embarcam nas aparências e julgam sem sacar o que há ou pode haver por trás!

Anônimo disse...

Eu já sabia que você iria me conhecer.

Não querendo ser chato, espero um novo texto revelador.

oi disse...

Então ela é uma mulher forte que se traveste para enfrentar o mundo, não para fugir dele e aguenta os que julgam sem saber o fundo? Se assim for, me sinto mal por isso, mas estou com inveja! Mesmo que ao encenar um personagem eu me divirta no primeiro sinal de critica desmorono, principalmente se isso ferir alguem que eu goste. Ainda não aprendi a lidar com as aparências e nem com as transparências.

Angela disse...

Dudv
Acho que os comentários dos blogs existem para dar um feedback a quem escreve e as pessoas só se tornam chatas quando usam este espaço para brincadeiras infantis.

Angela disse...

:: Giselly ::
Contei a história de uma moça com câncer e sem um emprego que a ajude a manter sua quimioterapia etc... que, entre outras coisas a deixou careca.
Tentou, inventar um modelito chamativo e inventivo que pudesse torná-la interessante num meio onde estas bizarrices contam. Se forte ou fraca, isto é mais um rótulo de quem precisa catalogar a vida. O meu foco ficou no fato de que a aparência pode esconder motivos bem diversos e mais duros do que o julgamento alheio.
Bem, para quem escreve minicontos, acabei escrevendo quase um tratado!

oi disse...

Desculpe pela minha ignorância te forçar a isso.

Leo Lagden disse...

A máscara para o ser humano ficou tão essencial quanto o ar.
Não sabemos mais quem são as pessoas verdadeiramente ou se estão representando.
Viver de aparências é preciso. Não precisamos mais SER, nem TER, temos que PARECER para ser aceito na sociedade (hiper)moderna.

EDUARDO OLIVEIRA FREIRE disse...

Concordo, quando diz brincadeiras infantis.

Mas, uma coisa é quando a pessoa que escreve bobagens no espaço alheio, outra é quando a pessoa não quer se identificar.

Parabéns pelos os dois últimos contos, fazer a gente refletir bastante.

Angela disse...

querida Giselly!

Eu estava brincando! Nunca peça desculpas por ter dúvidas ou um pensamento diverso de outros!
A explicação que te dei vai servir a outros e os minicontos têm esta qualidade - podem ser lidos de muitas formas, acordo com a visão de cada um! Questione sempre!

Angela disse...

Leo Lagden
Concordo com você. Mas, há uma saída e eu a adoto desde muito.
Não estar nem aí para ser aceito, a não ser por sim mesmo!
Te desejo autoconfiança e o melhor relacionamento entre as partes que te compõem!
Obrigada pelo comentário tão claro!

Angela disse...

dudv
Falei sobre a brincadeira de esconde-esconde! Nada quanto ao conteúdo!

Beto Guimarães disse...

“Escrever é seduzir. Um bom conto (ou mesmo um miniconto) é composto por palavras seduzidas, fala sobre o que nos seduziu e é onde tentamos decifrar a mudez do espírito”(Alenxandre Coslei). E nessa arte de seduzir, a Angela é magistral. Ótimo miniconto . Grande abraço.

Angela disse...

Beto Guimarães
Que frase! muito grata por sua leitura amável.
Um abraço.