1 - Aos Loucos Varridos
Com a maturidade e a
independência, descobri que era interpretada erroneamente até por aqueles que
viam algo de heróico e pioneiro em minha vida. Nada sabiam do que se passava
nos bastidores de minha alma recolhida.
Talvez por isto tudo,
os chamados loucos sempre contaram
com meu interesse, simpatia e defesa irada. A injustiça do julgamento a priori,
a segregação sofrida, os diagnósticos apressados e o sempre desamor permeando
as vidas de pessoas incríveis como Camille Claudel, Van Gogh, Santos Dumont, e
outras tantas almas singulares que não trilharam os caminhos esperados pela
maioria.
Quase sempre estes
seres foram cercados e sugados por familiares que tinham os “pés no chão” e que
se valeram das genialidades do parente que foi rotulado como louco!
Hoje se fala de
inclusão de minorias: dos negros, dos homossexuais e afins, dos isso e aquilo,
mas não consigo ver ninguém que se chegue a alguém que desafie as convenções e
que seja chamado Louco! Ah! Mentira! Existe sim, uma hipótese: se este louco
fizer gênero e tiver dinheiro, pois então será ícone e não só será aceito como
imitado e endeusado! E, se for bem de perto, se poderá perceber que é só
fachada, que lá no fundo existe o marketing que visa dinheiro e sucesso
material. O pobre coitado que ousa desobedecer os padrões e ser diferente
porque criativo, porque ele mesmo em sua individualidade ímpar, terá que ser
banido, impedido, medicado e drogado através das químicas permitidas e
manipuladoras. Então, terá seu diagnóstico estampado para sempre na testa e na
alma: desequilibrado, doente mental, maluco e junto, virá o desamor de quem o
deseja bonzinho, obediente. Manipulável!
Agora sim ele está
melhor! Enquadrou-se, sua criatividade está morta para sempre e a dor, será
sempre a mesma, a do abandono, pois esta jamais será compreendida e alcançada
pelos medíocres.
Neste compasso segue o
coreto dos que afirmam que é para que não sofram, por isto medicam, dão choques
elétricos e confinam. São mantidos à distância da sociedade porque envergonham,
não enchem de vaidade pais e mães, irmãos, tios e primos. E ninguém os aceita,
não são ouvidos, não são tocados, não são amados.
Causa-me desespero,
impotência e um profundo desprezo perceber a cautela doentia com que o irmão de
Camille, aquele Paul que se disse iluminado, mas que destilava uma manipulação
interesseira, manter confinada a irmã que jamais foi louca, apodrecendo num
asilo, sem responder suas cartas, pois certamente seu comportamento
imprevisível e inaceitável à época, poderia por em risco sua carreira
diplomática e de poeta!
Até que Camille morreu
e começou a ser considerada uma escultora genial e então o abjeto passou a
mencioná-la com o orgulho perfeito para somar ao seu nome. Então se tornou o
que sempre foi – apenas o irmão de Camille Claudel- a artista cuja genialidade
superou, e muito,
a criação medíocre de
Paul.
É absurdo que, em
nossos dias, este comportamento se repita e a ignorância continue.
Posso estar
completamente equivocada, mas não creio. Os rotulados doentes mentais sofrem
sim, mas antes que seus delírios doam pela rejeição e incompreensão, antes que
morram pelo desamor e se suicidem pelo desespero de viver à margem da vida,
ajude-os a canalizar seus “delírios” para a expressão original. Dêem-lhes
ouvidos e instrumentos e teremos gênios criativos e pessoas únicas que poderão
amedrontar, mas que serão os arautos das verdades que não temos coragem de ver!
Por Camille e para Ana
Paula que saiu de um palco estreito demais, para brilhar em liberdade e
plenitude em algum lugar melhor.
Em 26-11-2008
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