quinta-feira, 28 de novembro de 2019

EXPERIÊNCIA ESTRANHA

Em meditação


Experiência estranha

No inicio dos anos sessenta, tinha pouco mais de 18 anos e estudava psicologia na PUC do RJ. 
Morava na Urca em casa de meus pais e, neste dia tirava, de forma mecânica e aborrecida, o pó dos moveis do quarto de dormir que dividia com minha irmã, quando ouvi um súbito zumbido originado em meu crânio.
Além das camas, tínhamos uma penteadeira dentro deste quarto e, assim que o zumbido cessou, eu me vi refletida neste espelho embora estivesse afastada de sua área de reflexo.
Ou seja: de algum ponto do quarto onde eu tinha consciencia de estar eu via mais duas imagens de mim. A que estava em frente ao espelho e a refletida na parte central do mesmo.
O mais importante me pareceu a absoluta ausência de limites no espaço. Meu âmbito de visão era absoluto, assim como o conteúdo de meus pensamentos era universal. Não havia frente ou costas, direita ou esquerda. O campo de visão e de consciência era absoluto.
Lembro bem que, por alguma razão, uma simples maçã – fruto- que estava no ambiente, foi percebida como “A maçã” em sua totalidade, o conceito em minha percepção era universal e não se prendia a aspecto algum do fruto.
Assim como esta experiência ocorreu, ela terminou e eu retornei espantada à condição prosaica em que estava anteriormente. No dia seguinte pude conversar com duas companheiras da faculdade e ambas haviam passado por fenômenos semelhantes. Uma delas enquanto fazia exercícios ao piano e a outra enquanto datilografava. 
Chegamos a questionar este fato com nosso professor de psicopatologia que o definiu como uma crise chamada “despersonalização”, o que não nos esclareceu nem abalou.
Algumas vezes depois aquele zumbido pareceu voltar, mas minha expectativa do seguimento do processo deve ter interrompido uma nova experiência.
Por muitas razões pessoais, resolvi relatar agora esta experiência, embora muitos anos já tenham decorrido. Em 18 -10 – 2019 - Angela Schnoor
COMPLEMENTO – outras experiências ocorridas em 1981 enquanto fazia exercícios de Yoga.
Neste ano, após o falecimento de minha mãe, comecei a fazer aulas de Yoga com Dagmar Krebs e puder passar por duas experiências interessantes e reveladoras. Foi uma época de descobertas e abertura de mente para conhecimentos até então negados ou ignorados.
A primeira ocorrência se deu quando, em relaxamento, deitada, percebi e pude ver parte de meu tronco se levantando e “sentando “ a partir de minha cintura. Senti muito medo e de alguma forma trouxe esta parte de volta a sua posição, deitada como todo o restante de mim.
A segunda vez em que isto ocorreu foi mais rápida e duradoura. Eu estava deitada, em relaxamento, quando me percebi fora de meu corpo, de pé, ao lado do corpo repousado. 

Não me assustei e pude perceber, em torno de todo o meu corpo, uma aura de formas multi coloridas, como pequenas setas em movimento constante e alternado em dois estágios de pequena altura entre as setas. A experiencia foi muito agradável e bela. 
Este desenho é apenas um exemplo - as setas de luz se moviam em torno do corpo todo





segunda-feira, 25 de novembro de 2019

O ESPÍRITO DAS GAIOLAS



O ESPÍRITO DAS GAIOLAS

Durante o tempo em que vivemos, encontramos vários tipos de pessoas.

As abençoadas pessoas-anestésicas, que nos suprimem as dores do corpo e as da alma.

Há as temidas pessoas-cirúrgicas, as que nos arrancam os males diretamente, por vezes à força. Estas estão ali nas crises agudas e não podemos, sem ônus grave, usá-las e abusá-las todo o tempo, mas, sem elas, caímos nas de...

"Uso diário" - as paliativas, que suavizam a dor e deixam para depois o enfrentamento das causas e resultados. Estas funcionam de forma semelhante às pessoas-curativo as que tampam as feridas, disfarçam os cortes, mas só servem para males superficiais.

Há ainda as que funcionam como alimentos fortalecedores, vitaminas e suplementos que nos permitem estar fortes e preparados para os embates, são elas que nos reforçam a autoconfiança, nos apoiam nas horas difíceis e podem até ter atitudes anestésicas e cirúrgicas se assim for necessário.

As escolhas são sempre nossas e, quando ficamos frágeis demais porque vivemos nos nutrindo de doçuras e produtos artificiais que minam nossas vidas e saúde, talvez precisemos de drogas anestésicas por todo o tempo de vida ou teremos que juntar força e coragem para enfrentar uma mudança radical que deixe à mostra o que é preciso extirpar.

Apenas quando abrimos as portas das gaiolas e deixamos livres nossas almas podemos perceber o quanto estivemos mantidos pelo conforto enganoso das prisões.

sábado, 23 de novembro de 2019

AO DESPEDIR DE ALGUÉM QUERIDO




Comungar é fazer algo em comum e comemorar é recordar com felicidade. 
Assim, prefiro sempre lembrar, junto com todos, amigos e família, aqueles que se despediram desta vida.

Penso que, independente de credo ou filosofia, temos certeza de permanecer neste mundo por, ao menos dois motivos: Pelas obras públicas e profissionais que deixamos na Sociedade em que vivemos e pela família que construímos onde, na intimidade e anonimato, semeamos valores que atravessarão os tempos através da cadeia de vida que geramos.

A melhor forma de alcançarmos a eterna lembrança é reviver e recontar nossas histórias. Passando para nossos filhos e netos as memórias dos entes queridos, nós os mantemos vivos mesmo que um dia tornem-se lendas e mitos, pois então farão parte da memória ancestral da humanidade.
Cada pessoa é como um quebra cabeças do qual cada um tem algumas peças. Falemos dela, contemos e recontemos as histórias cheias do entusiasmo daquele que se foi. Sei que haverá muito a dizer e contar e que esta é uma forma de manter sua vida para sempre, na alegria de termos partilhado sua luz.

Angela.
em algum Dezembro 

domingo, 17 de novembro de 2019

ALQUIMIA




ALQUIMIA

Na panela com bastante água, coloque o coração
Acrescente mel
Em fogo baixo, deixe que aqueça até mudar de cor
Em outra terrina, deite todas as mágoas e lágrimas possíveis até quase entornar. O fogo deve ser médio para que sequem totalmente, sem grudar no fundo
Na frigideira, leve a raiva ao fogo alto em um pouco de óleo puro, com uma pitada de sal. Bem tampada, frite-a até que se torne seca e dura como carvão
Assim que esturricar, jogue na lixeira sem perigo de sobrar qualquer farelo
Reponha o coração e não se esqueça de cantar enquanto deixa limpa a cozinha.


sexta-feira, 15 de novembro de 2019

LIBERDADE

LIBERDADE
 
Muito tempo a derrubar paredes
Escapar da prisão era o desejo.
Ao vislumbrar o mar azul saltou. 
Nunca havia nadado.
Se afogou,
livre!
 
15-11-2019


terça-feira, 12 de novembro de 2019

sábado, 9 de novembro de 2019

CARTAS

2 - CARTA DE AMOR

Acordei hoje, com a sua lembrança bem viva. Não apenas, pelo fato de estar desde há uns dias me lembrando de seu aniversário, mas porque tive a sensação de ter passado a noite em sua companhia. 
Assim como na vida, os sonhos são breves, mas podem deixar a impressão de que duram todo o tempo.
Assim é a sua existência na minha.
O sonho me trouxe, como sempre, (tenho um inconsciente camarada!) situações agradáveis e a certezafísica” de que o meu prazer fez um forte vínculo com o seu ser. Não pense que estou parada no tempo e que posso me reportar a você, com o mesmo vínculo amoroso. Isto não ocorre porque entendo a vida como uma editora que, não mantém títulos antigos que são valorizados pela qualidade, mas os atualiza, reedita e lança outros novos.
Acontece que, na minha editora, você é um livro de valor, como um clássico, pois aprendi muito com esta leitura, o que me trouxe um raro prazer.
Na minha alma, o amor tem uma infinidade de possibilidades e encadernações.
Concordo com Thiago de Mello no seu "Estatutos do Homem" quando diz que "a pior dor é não poder dar amor a quem se ama." Pois o amor se rejubila na doação e no prazer do outro. A benevolência que temos, ao tratar com carinho e atenção a quem amamos está na própria raiz da palavra, independente de seu uso corriqueiro. Benevolente é a atitude constante em qualquer tipo de relacionamento no qual exista a intenção e o sentimento de colaborar para a alegria e a realização do outro.
Queria muito e, como queria, ser benevolente com você. Aliás, sou, pois isto independe do Nós. Fica sim, prejudicada, neste querer bem, a amplitude em atos e a satisfação egoísta de ver a felicidade do outro, assim como o sentir menor nossos limites e impotência em relação ao querer alheio. 
Mas, parece que continuo a aprender com você e com a dificuldade quanto à reedição traduzida, revista e, quiçá, aumentada desta benevolência que espero, um dia, não seja via de mão única.
Hoje, especialmente, embora o tempo seja uma ficção, você completa seus cinqüenta anos. 
Emparelhamos-nos, por pouco tempo, vivendo a mesma década.
Espero que, como já disse num recado eletrônico, esta maior idade te seja tão rica e benéfica quanto tem sido para mim. O despojar-se de expectativas, conflitos internos, autocobranças e velhos temores, podem trazer um tipo de liberdade tão interna e profunda que nada abala e, enfim, podemos Ser nossas verdades independentes de censuras ou aprovações externas.
Esta hoje, minha querida, é a manifestação mais verdadeira de minha benevolência por você.  


Em tempo, descobri que hoje comemoram o dia do beijo. Não é interessante? Muitos deles para você neste seu dia.

CARTAS E MENSAGENS

1 - Aos Loucos Varridos


Desde muito cedo percebi que me encaixava na classe dos ET’s. Talvez, por isso mesmo, minha aparência e comportamento externo fossem tão certinhos, discretos e enquadrados. Defesa pura.  As poucas vezes em que ousei sair deste modelo fui etiquetada com rótulos nada aceitáveis para a época. As palavras, as idéias e a forma de viver desde muito cedo ameaçaram o núcleo familiar e social e em troca, muitas dores foram vividas na calada.
Com a maturidade e a independência, descobri que era interpretada erroneamente até por aqueles que viam algo de heróico e pioneiro em minha vida. Nada sabiam do que se passava nos bastidores de minha alma recolhida.
Talvez por isto tudo, os chamados loucos sempre contaram com meu interesse, simpatia e defesa irada. A injustiça do julgamento a priori, a segregação sofrida, os diagnósticos apressados e o sempre desamor permeando as vidas de pessoas incríveis como Camille Claudel, Van Gogh, Santos Dumont, e outras tantas almas singulares que não trilharam os caminhos esperados pela maioria.
Quase sempre estes seres foram cercados e sugados por familiares que tinham os “pés no chão” e que se valeram das genialidades do parente que foi rotulado como louco!
Hoje se fala de inclusão de minorias: dos negros, dos homossexuais e afins, dos isso e aquilo, mas não consigo ver ninguém que se chegue a alguém que desafie as convenções e que seja chamado Louco! Ah! Mentira! Existe sim, uma hipótese: se este louco fizer gênero e tiver dinheiro, pois então será ícone e não só será aceito como imitado e endeusado! E, se for bem de perto, se poderá perceber que é só fachada, que lá no fundo existe o marketing que visa dinheiro e sucesso material. O pobre coitado que ousa desobedecer os padrões e ser diferente porque criativo, porque ele mesmo em sua individualidade ímpar, terá que ser banido, impedido, medicado e drogado através das químicas permitidas e manipuladoras. Então, terá seu diagnóstico estampado para sempre na testa e na alma: desequilibrado, doente mental, maluco e junto, virá o desamor de quem o deseja bonzinho, obediente. Manipulável!
Agora sim ele está melhor! Enquadrou-se, sua criatividade está morta para sempre e a dor, será sempre a mesma, a do abandono, pois esta jamais será compreendida e alcançada pelos medíocres.
Neste compasso segue o coreto dos que afirmam que é para que não sofram, por isto medicam, dão choques elétricos e confinam. São mantidos à distância da sociedade porque envergonham, não enchem de vaidade pais e mães, irmãos, tios e primos. E ninguém os aceita, não são ouvidos, não são tocados, não são amados.
Causa-me desespero, impotência e um profundo desprezo perceber a cautela doentia com que o irmão de Camille, aquele Paul que se disse iluminado, mas que destilava uma manipulação interesseira, manter confinada a irmã que jamais foi louca, apodrecendo num asilo, sem responder suas cartas, pois certamente seu comportamento imprevisível e inaceitável à época, poderia por em risco sua carreira diplomática e de poeta!
Até que Camille morreu e começou a ser considerada uma escultora genial e então o abjeto passou a mencioná-la com o orgulho perfeito para somar ao seu nome. Então se tornou o que sempre foi – apenas o irmão de Camille Claudel- a artista cuja genialidade superou, e muito,
a criação medíocre de Paul.
É absurdo que, em nossos dias, este comportamento se repita e a ignorância continue.
Posso estar completamente equivocada, mas não creio. Os rotulados doentes mentais sofrem sim, mas antes que seus delírios doam pela rejeição e incompreensão, antes que morram pelo desamor e se suicidem pelo desespero de viver à margem da vida, ajude-os a canalizar seus “delírios” para a expressão original. Dêem-lhes ouvidos e instrumentos e teremos gênios criativos e pessoas únicas que poderão amedrontar, mas que serão os arautos das verdades que não temos coragem de ver!

Por Camille e para Ana Paula que saiu de um palco estreito demais, para brilhar em liberdade e plenitude em algum lugar melhor.
 

Em 26-11-2008 

ANGUSTIA


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