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O contrabaixo estava no lixo, velho e abandonado. Seu corpo sensual já não podia vibrar como antes fizera e, com que prazer! Mas as notas que havia tocado ainda percorriam os espaços e podiam ser ouvidas no cantar do vento entre as folhagens. Tinha afinidade com a árvore onde o encostaram. A alma da madeira era como a sua e a luz do sol ainda alegrava seus dias de espera até tornar-se lenha. Mas, mesmo naquela situação pouco lisonjeira, se incomodava com o lixo plástico e o odor que feria sua sensibilidade artística fora de moda. Por mais que a jovem lixeira parecesse venerar sua imponência, ele não suportava a forma tosca, cheia de matéria fétida daquele artefato que permaneceria, quase sem desgaste, muito tempo após sua morte.
escrito em 12-02-2009
4 comentários:
Que contrabaixo infeliz
Olinda
Pontos de vista - o contrabaixo percebe como infeliz, a lixeira!
grata pela visita.
Lindo conto que mostra o descaso do mundo de hoje. Parabéns!
Aí Duduv!
Percebeu bastante a intenção desta história. Por outro lado, também pode refletir a tristeza de tudo que é "antigo" e a supervalorização do que é prático e prosaico, incluindo pessoas!
Obrigada!
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