Quando criança sentia-me como mar: Calma, serena e silenciosa, embora abrigasse, nas entranhas, monstros e tubarões famintos, ondas bravias e toda sorte de movimentos perigosos.
Minha mãe se acreditava minha única praia e tentava exibir-me ao mundo, espelho de seus desejos. Às vezes, percebia que ela pensava que eu poderia ser um lago, onde se admirava...
Desagradada e temendo todos os avanços, recolhi as águas e consegui retê-las por muito tempo, embora minha pele exsudasse o sal e as durezas, como conchas e corais, ficassem expostas, para desencanto de minha criadora.
Ah! Lembro-me que sempre detestei o barulho insano dos praianos, aquelas vozes a dizer tolices à volta, enquanto invadiam minhas águas, poluindo-as.
Até que não foi mais possível impedir a força dos maremotos. Acho que alguém jamais se acreditou causa ou estopim de tantas desgraças...
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